No pentecostes relatado em Atos os discípulos de Jesus falaram em línguas estranhas?
Em Atos 2.1-13 vemos relatado um acontecimento bastante incomum relacionado à ação do Espírito Santo através de cerca de 120 discípulos de Cristo (Atos 1.15), que estavam reunidos provavelmente no cenáculo (salão construído em cima do andar térreo de uma casa – Atos 1.13).
Sobre esse acontecimento muitos afirmam que o que aconteceu ali foi aquilo que a Bíblia menciona como “falar em línguas” (Como por exemplo, em 1 Corintios 12 e 14) e também como sendo o famoso batismo no Espírito Santo. Alguns vão além e usam esse acontecimento para afirmar que somente a pessoa que fala em línguas estranhas é batizada no Espírito Santo. Mas será que é isso mesmo que aconteceu ali no relato de Atos?
Um exame um pouco mais minucioso nos mostra que não. O que aconteceu em Atos 2.1-13 não se trata de servos de Deus falando em línguas estranhas ininteligíveis até que fossem interpretadas por alguém, o famoso falar em línguas tão pregado por algumas igrejas. Vejamos:
(1) A manifestação desse milagre se deu no momento em que vários dos discípulos de Cristo estavam reunidos. A Bíblia menciona que “de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles.” (At 2:2-3). Esses versos nos mostram que essa ação do Espírito Santo foi algo visível e audível (som do céu e línguas parecidas com fogo pousando sobre cada um).
(2) Aqueles que foram contemplados com essas línguas como de fogo “ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.” (At 2:4). Note que foi uma ação do Espírito Santo na vida deles e através da vida deles, um verdadeiro milagre.
(3) Fica claro no verso 5 que o autor de Atos destacou bastante a presença de várias pessoas de diferentes lugares do mundo da época com suas diferentes línguas e possíveis dialetos: “Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu…” (At 2:5)
(4) A multidão que estava ali presente, que vinha de diversas nações e que presenciou o milagre ficou espantada, pois aqueles homens reconhecidamente judeus galileus, ou seja, pessoas de uma determinada região que tinha sua língua, sotaques e dialetos próprios, estavam falando palavras que elas conseguiam entender sem a necessidade de qualquer intérprete, que era o modo natural de conversar com alguém que falava outro idioma: “Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?” (At 2:7)
(5) Para que não ficasse qualquer dúvida de que as línguas ali faladas eram idiomas conhecidos à época e não línguas estranhas ininteligíveis, o autor de Atos ainda destacou uma lista bastante extensa de povos de nacionalidades diferentes que foram identificados entre a multidão e que ouviu essa espécie de tradução que o Espírito Santo realizou das palavras dos discípulos de Jesus para diversos idiomas: “Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?” (At 2:9-11).
(6) Sendo assim, fica claro que o acontecimento de Atos 2.1-13 foi sim um milagre do Espírito Santo e também fica claro que ali houve uma manifestação única do poder de Deus. Essa manifestação não foi mais repetida nas Escrituras Sagradas. E para finalizar, fica claríssimo que as línguas ali faladas devem ser entendidas como línguas (idiomas) e não como línguas (falar em línguas).
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