O que significa não tocar nos ungidos de Deus?
Você Pergunta: Ouvi ontem uma pregação de um pastor, onde ele dizia que os pastores e outros servos de Deus com autoridade, devem ser honrados porque são ungidos de Deus, e que quem critica pastores e servos de Deus está trazendo juízo para a própria vida, pois a Bíblia proíbe tocar nos ungidos de Deus. Mas como funciona isso, por exemplo, quando um pastor comete um erro? Ele não pode ser corrigido ou criticado?
Cara leitora, essa falsa doutrina de “não tocar nos ungidos de Deus” que você mencionou tem sido cada vez mais usada por muitos líderes de seitas que acham que são cristãs para manter as pessoas em uma espécie de cabresto onde não podem sequer questionar qualquer atitude desses líderes.
Usam textos bíblicos, manipulando-os e se aproveitam do pouco conhecimento bíblico das pessoas para enganá-las.
Vamos analisar essa questão biblicamente e verificar se discordar, criticar e até chamar a atenção de um pastor é algo condenado pela Bíblia.
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Tocar nos ungidos de Deus. O que a Bíblia diz?
(1) O texto que normalmente é usado pelos pastores, apóstolos, bispos (e semelhantes) para dizer que não podem ser criticados de nenhuma forma é 1 Crônicas 16:21-22:
“A ninguém permitiu que os oprimisse; antes, por amor deles, repreendeu a reis, dizendo: Não toqueis nos meus ungidos, nem maltrateis os meus profetas”.
Nesse texto o rei Davi escreve um salmo de ações de graças pela volta da arca da Aliança para o meio do povo de Deus.
A arca da aliança estava “perdida” desde a época dos juízes quando o povo se desviou do Senhor. Davi relembra as bênçãos de Deus e as promessas feitas a Abraão, Isaque e Jacó e como Deus os transformou em um grande povo.
É nesse contexto que Davi menciona a proteção de Deus ao seu povo diante de reis tiranos que os queriam destruir.
Observe que no texto citado acima, Deus repreende a reis que queriam “tocar” (fazer mal) a Seu povo e Seus profetas.
(2) Esse texto de nenhuma forma pode ser compreendido como uma repreensão de Deus para qualquer pessoa que critique, que discorde ou até que chame a atenção de algum pastor ou servo de Deus por algum motivo.
Não é isso que o salmo escrito por Davi quer comunicar. O contexto nos mostra claramente que o objetivo de Davi foi demonstrar a proteção de Deus para aquele pequeno povo escolhido de Deus que estava se formando e que, naquele tempo, era peregrino.
Esse é o significado de não tocar nos ungidos de Deus dentro do contexto bíblico.
(3) Um outro texto muito usado para dar base à ideia de que pastores e alguns líderes são “ungidos de Deus” e intocáveis é Números 12:8:
“Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a forma do SENHOR; como, pois, não temestes falar contra o meu servo, contra Moisés?”
Aqui Deus repreende Arão e Miriam, que se colocaram em oposição a Moisés. O que temos nesse caso é que Moisés era o instrumento escolhido de Deus para a revelação divina ao povo de Israel.
E como tal estava sendo injustiçado por uma oposição injusta e tendenciosa, que poderia atrapalhar a obra de Deus realizada no meio daquele povo. Dai Deus ter feito justiça de forma que todos vissem que Moisés era, de fato, o elo de ligação para a revelação de Deus àquele povo.
Esse acontecimento não dá embasamento para blindar líderes da atualidade, que estão debaixo da aliança de Cristo, como se não pudessem ser repreendidos em nenhum momento. Vejamos um exemplo disso:
(4) Temos diversos exemplos bíblicos de servos de Deus sendo repreendidos por atos incorretos que praticaram.
Por exemplo, o próprio Davi foi repreendido pelo profeta Natã por ter adulterado com Bate-Seba e ter matado Urias (2 Samuel 12:1-14).
Temos ainda outros exemplos, como o apóstolo Paulo repreendendo o grande apóstolo Pedro diante de todos por causa de um comportamento errado dele:
“Quando, porém, vi que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho, disse a Cefas, na presença de todos: se, sendo tu judeu, vives como gentio e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?” (Gálatas 2:14).
(5) Paulo orientou que denúncia contra presbíteros fossem julgadas com muito critério, sempre com depoimento de duas ou três testemunhas, o que indica que homens de Deus também não devem ser acusados de algo sem que haja provas.
Mas observe que em havendo pecado notório, Paulo manda: “Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam” (1 Timóteo 5:20).
Isso porque a Bíblia ensina que um homem de Deus sábio, mas que está andando errado, aceitará a repreensão para o seu próprio bem:
“Não repreendas o escarnecedor, para que te não aborreça; repreende o sábio, e ele te amará” (Provérbios 9:8).
(6) Assim, fica evidente que a Bíblia não oferece uma blindagem anticrítica a nenhum servo de Deus. É evidente que todo servo de Deus merece respeito, que merece ser honrado pelo trabalho que faz a Deus e ao próximo.
Porém, deve sempre estar aberto a críticas construtivas, deve assumir seus erros quando os comete e até mesmo deve aprender a abençoar os inimigos que criticam maldosamente assim como Jesus ensinou (Mateus 5:44).
Não existe qualquer “maldição” de Deus colocada sobre as pessoas que de alguma forma questionam líderes. Infelizmente essa questão de não tocar nos ungidos de Deus tem sido usada para encobrir muita safadeza por esse mundo afora.
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