O que significa Salmos imprecatórios? Podemos pedir o mal dos inimigos?
Você Pergunta: Eu li seu estudo sobre quem escreveu o livro de Salmos e gostei muito, porém, uma coisa me chamou muito a atenção, que foi a menção dos salmos imprecatórios que, segundo você colocou de forma resumida, o salmista pede a Deus castigos duros para os inimigos. Eu gostaria de entender melhor isso e como desejar o mal dos outros se harmoniza com o amar ao próximo tanto pregado na Bíblia. Hoje em dia podemos orar dessa forma?
Caro leitor, no livro de salmos encontramos cerca de 20 salmos que são classificados como salmos imprecatórios (Imprecação = maldição, praga) por conta da sua mensagem (às vezes bem dura) contendo pedidos a Deus pelo castigo de inimigos.
Vejamos um deles: “Acrescenta-lhes pecado sobre pecado; não os deixes alcançar a tua justiça. Sejam eles tirados do livro da vida e não sejam incluídos no rol dos justos” (Salmos 69:27-28 – NVI).
Para compreender essas duras falas de diversos salmistas, é preciso fazer algumas considerações importantes:
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Por que nos salmos imprecatórios se deseja o mal das pessoas?
(1) A primeira coisa a se considerar é o contexto bíblico. Estamos falando aqui de salmos anteriores a lei de Moisés e também de salmos do tempo da lei.
Nesse tempo não tínhamos ainda uma revelação plena dos planos de Deus e, principalmente, dos planos de Deus para o julgamento final, quando os perversos serão plenamente punidos pela justiça de Deus.
Ou seja, as pessoas que viviam nessas épocas tinham como base as alianças feitas com Deus nessas épocas. Isso aponta que essas pessoas tinham em suas mentes que o triunfo de Deus contra o mal se dava ainda aqui em vida.
Daí o desejo forte de ver o bem triunfando sobre o mal que vemos nos salmos imprecatórios. A vitória de inimigos malignos, para os servos de Deus dessas épocas, parecia indicar que Deus não estava fazendo justiça:
“Até quando o adversário irá zombar, ó Deus? Será que o inimigo blasfemará o teu nome para sempre?” (Salmos 74:10 – NVI).
Os salmos imprecatórios e o nome de Deus
(2) Encontramos claramente nesses salmos um desejo grandioso de Seus autores não de vingança puramente pessoal, mas de honra ao nome de Deus, de Sua justiça e do triunfo do bem sobre o mal.
Eles claramente acreditavam que o triunfo de inimigos e do mal representava uma afronta ao santíssimo nome de Deus: “Mas tu, Soberano Senhor, intervém em meu favor, por causa do teu nome. Livra-me, pois é sublime o teu amor leal!” (Salmos 109:21 – NVI).
A linguagem dos Salmos imprecatórios
(3) Um outro fator muito importante a se considerar quando falamos de salmos imprecatórios é que temos no livro de Salmos como um todo uma linguagem poética, e encontramos muito dentro desse estilo de escrita, a figura de linguagem chamada “hipérbole”, que busca usar de exageros para chamar a atenção para uma realidade.
Assim, muitos desses salmos usam esse tipo de linguagem exagerada para trazer ao leitor esse forte desejo pela justiça de Deus, o triunfo do bem e a exaltação do nome do Senhor:
“Alegrar-se-á o justo quando vir a vingança; banhará os pés no sangue do ímpio. Então, se dirá: Na verdade, há recompensa para o justo; há um Deus, com efeito, que julga na terra” (Salmos 58:10-11).
Salmos imprecatórios em nosso tempo?
(4) Após a plena revelação que tivemos em Jesus Cristo não temos mais qualquer necessidade de orar buscando o mal de inimigos, pois hoje sabemos de forma mais plena sobre a revelação da justiça de Deus, sobre os planos do Pai de julgar a todos no Dia do Juízo Final.
Assim, até que esse dia chegue, devemos seguir as orientações de Jesus a respeito de inimigos e pessoas que desejam o nosso mal: “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mateus 5:44).
Devemos compreender os salmos imprecatórios dentro de seus contextos e saber que a forma como aquelas orações foram escritas naquelas épocas não representam mais, na nova aliança de Cristo, um modo desejável para orarmos a Deus sobre inimigos e pessoas que nos fazem mal:
“Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Romanos 12:20-21).
Isso não significa que não devemos desejar a justiça de Deus, a punição dos que cometem crimes e a plena realização da justiça de Deus no mundo.
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