Podemos batizar por causa dos mortos como parece ensinar 1 Coríntios 15:29?

Postado por Presbítero André Sanchez, em #VocêPergunta |
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Você Pergunta: Gostaria de saber por que Paulo fala de pessoas que se batizam por causa dos mortos em 1 Coríntios 15:29. Isso poderia significar, como alguns dizem, que os católicos estão certos em interceder pelos que já morreram? Ajude-me a entender melhor esse tema, por favor.

Caro leitor, esse é um dos versos de mais difícil compreensão dentro dos escritos do apóstolo Paulo. Ele diz o seguinte aos coríntios:

“Doutra maneira, que farão os que se batizam por causa dos mortos? Se, absolutamente, os mortos não ressuscitam, por que se batizam por causa deles?” (1 Coríntios 15:29).

Paulo parece aqui dar um aval positivo a pessoas que se batizam por causa dos mortos, pois a ressurreição é uma verdade clara da Bíblia. 

Mas, ao mesmo tempo, a Palavra de Deus ensina que a salvação de alguém só pode ocorrer quando a própria pessoa crer. Como entender essa aparente contradição toda?

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Batismo por causa dos mortos

(1) O que poucos percebem nas falas de Paulo em todo esse trecho aos coríntios, onde ele trata sobre ressurreição, é que ele usa uma série de ironias, justamente para confrontar erros teológicos absurdos dos crentes dali.

Mas qual era o erro teológico deles? Era não crer que haveria uma ressurreição final. Veja:

“Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?” (1 Coríntios 15:12).

Observe que já neste verso Paulo ironiza a falta de conexão do que eles estavam crendo com o que eles estavam vivendo.

Eles creram em Cristo, que ressuscitou dos mortos, mas não criam que eles mesmos, servos de Cristo, também ressuscitariam dos mortos! Estranho, não é verdade?

(2) Paulo faz, então, uma longa exposição provando que a ressurreição de Cristo é o modelo da ressurreição que Seus servos também terão em suas vidas:

“Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem” (1 Coríntios 15:20).

Os que já morreram também ressuscitarão em corpos transformados no final dos tempos! Essa é a esperança do evangelho e a verdade contida nele. É isso que Paulo quer trazer ao coração daqueles crentes!

Em outro estudo iremos falar mais dessas questões. Mas, agora, precisamos entender a ironia sobre esses que se batizam por causa dos mortos…

(3) O verso de nossa análise é, como já percebemos, mais um dos questionamentos de Paulo aos coríntios sobre a forma ilógica que criam, comparando com algumas de suas práticas.

Ou seja, eles faziam uma coisa e criam em outra totalmente contrária ao que faziam. Seria algo como alguém dizer que não gosta de laranja, mas beber suco de laranja! Paulo expõe esse erro deles:

“Doutra maneira, que farão os que se batizam por causa dos mortos? Se, absolutamente, os mortos não ressuscitam, por que se batizam por causa deles?” (1 Coríntios 15:29).

Se eles não criam na ressurreição, por que mantinham ou criam em algumas práticas que só tinham algum sentido se houvesse a ressurreição?

Mas agora chegamos a uma parte difícil. Que prática era essa citada por Paulo de se batizar por causa dos mortos?

(4) Esse batismo citado por causa dos mortos nos levar a pelo menos três hipóteses interessantes, que valem a reflexão:

(i) Eles realizavam batismos de vivos em cemitérios? Alguns teólogos já levantaram essa possibilidade, pois havia esse tipo de prática relacionada à páscoa, onde se realizavam cultos em cemitérios para comemorar a ressurreição de Jesus.

Sendo assim, se essa hipótese for verdadeira, Paulo está dizendo aos coríntios que eles realizavam batismos dos novos convertidos em cemitérios para lembrar da salvação em Cristo, mas não criam na ressurreição, o que era algo muito contraditório.

(ii) Por causa dos mortos significa “pelo exemplo dos que já morreram”? Essa hipótese aponta para pessoas que estavam indo ao batismo (depois de se converter) motivadas pelo exemplo de grandes homens e mulheres de Deus (que já haviam morrido), que também serviram ao Senhor de todo coração, no passado.

Sendo assim, se essa hipótese for a verdadeira, Paulo está dizendo a eles que é absurdo seguir o legado de grandes servos de Deus que já morreram e crer que a vida deles se limitou apenas a essa terra e ponto final, que tudo se acabou na vida deles.

Isso também seria viver uma fé sem esperança e desnecessária! Veja como Paulo reage:

“Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1 Coríntios 15:19).

(iii) Alguns da igreja faziam batismos em favor de quem já morreu? Essa hipótese aponta para pessoas que estavam tentando salvar quem já tinha morrido, fazendo um tipo de batismo representativo, no lugar do morto.

Sabemos que isso é uma falsa doutrina. Porém, se essa hipótese for a real, Paulo está dizendo aqui que havia uma incoerência dupla na prática de alguns, ou seja, além de tentar salvar quem já morreu e não pode mais ser salvo, ao mesmo tempo, eles não criam que haveria uma ressurreição.

Se não existe ressurreição, por que alguns estão tão preocupados com quem já morreu? Aqui teríamos uma grande ironia do apóstolo, apresentando como alguns ali estavam afastados da verdade da Palavra do Senhor!

(5) Seja qual for das três hipóteses interpretativas que esteja certa, o que podemos perceber é que o ponto central da orientação de Paulo em todo esse capítulo era que os coríntios entendessem a esperança da ressurreição, que era baseada em Cristo.

Além disso, eles precisavam ver como era absurda a forma como estavam encarando a morte e ressurreição de Jesus, como sendo algo que não tinha tanto valor e efeito assim. Eles deveriam mudar sua forma de ver e pensar para a forma como o Evangelho ensina.

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