CONTRADIÇÃO: O centurião encontrou ou não encontrou Jesus pessoalmente?

Postado por Presbítero André Sanchez, em #VocêPergunta |
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Você Pergunta: Nos dois textos bíblicos que falam sobre a cura do servo do centurião, notei que existe uma contradição. Mateus narra que o centurião está falando com Jesus. Lucas narra que o centurião mandou mensageiros para falar com Jesus em seu nome. Isso é uma contradição nos textos? Ou tem uma explicação para essa diferença nas narrativas?

Caro leitor, você notou bem as diferenças nos dois textos que, de fato, apresentam diferenças significativas e que merecem uma análise. Vejamos esse ponto discordante nos textos:

“Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, apresentou-se-lhe um centurião, implorando” (Mateus 8:5).

Aqui em Mateus, o texto apresenta o centurião implorando a Jesus. Na sequência, é revelado que ele deseja a cura de seu servo. Lucas narra de outra forma, mostrando o centurião enviando pessoas a fazer o pedido a Jesus:

“Tendo ouvido falar a respeito de Jesus, enviou-lhe alguns anciãos dos judeus, pedindo-lhe que viesse curar o seu servo” (Lucas 7:3).

A primeira coisa a entender é que cada escritor, quando escreve seu relato, tem um objetivo em mente e que nenhum escritor consegue descrever 100% de tudo em uma cena. Ele sempre vai ter de escolher o que destacar em seu relato.

Imagine que em uma festa existam 100 pessoas. Se eu pedisse que essas 100 pessoas descrevessem como foi a festa, haveria 100 relatos diferentes, com coisas em comum e com coisas que constariam em alguns relatos e não em outros. Isso é natural.

Pensando nisso, como podemos compreender os relatos diferentes entre Mateus e Lucas que, veremos, não são uma contradição? Vamos refletir juntos.

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A história do centurião. Por que Mateus e Lucas relatam a história com diferenças?

(1) Se você se atentar aos detalhes da narrativa descrita por Mateus, verá que ele escolhe dar uma versão bem resumida, sem muito detalhamento. Ele parece querer apresentar rapidamente os pontos principais.

Ele quis mostrar que havia um problema grave, que havia um oficial romano que se achava indigno, mas tinha fé em Jesus e essa fé foi usada por Cristo, que curou o servo dele e ainda serviu de base para Jesus ensinar sobre a verdadeira fé! Sem muitos detalhes, sem muitas voltas, sem muitos floreios!

Mateus parece partir do pressuposto de que quando alguém é representado por outras pessoas e, considerando a cura feita por Jesus e o elogio realizado, é como se a própria pessoa se fizesse presente ali. Afinal, a fé elogiada nos dois relatos foi a do centurião! Para Mateus, o importante era narrar isso!

Ou seja, havia verdade, retidão em tudo que foi apresentado. Jesus atestou isso sobre esse homem. Mateus, então, narra de forma direta a fé do centurião, como se ele próprio estivesse diante de Jesus.

(2) Lucas, porém, está interessado nos detalhes. O texto não explica se isso tinha um motivo, mas podemos supor que ele queria que os primeiros leitores de seu relato soubessem desses detalhes.

Ele deseja construir cada coisa que aconteceu até que o servo do centurião fosse curado. E para isso, obviamente, ele buscou narrar mais elementos da história.

Ele narra como o centurião cheio de fé tinha receio de chegar pessoalmente a Cristo, talvez pensando que alguém tão importante como Jesus poderia não ter tempo e nem vontade de falar com um oficial romano!

Mas isso seria diferente se seus amigos judeus fizessem a tentativa! Lucas busca narrar também como o centurião usou uma comparação com sua própria autoridade como oficial comandante para convencer Jesus a fazer o milagre. E funcionou por causa da fé que ele, de fato, tinha e não era fingida!

(3) Podemos entender, então, os textos como complementares e não como contradições. Compreendido o contexto, é perfeitamente possível a narrativa realizada por Mateus. Ela não apresenta uma mentira e nem tem a intenção de torcer os fatos para parecer dar uma ideia diferente do acontecimento ou para passar uma ideia para manipular a situação com um fim maldoso!

Por isso, não há de se pensar em contradição, mas em compreender os objetivos de cada escritor que, guiados pelo Espírito Santo, fizeram suas narrações e atingiram seus objetivos de comunicar a história para o público original e depois para nós que viemos mais tarde e temos tanto Mateus quanto Lucas para nos informar.

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