Por que Deus proíbe casar com descrentes, mas muda de ideia várias vezes na Bíblia?
Você Pergunta: Eu fico confusa com algumas ordens de Deus. Primeiro ele manda o povo não se casar com povos pagãos (Deuteronômio 7:3), mas depois vemos alguns personagens se relacionando com pessoas pagãs, como algo vindo de Deus. Esse é o caso que li na história de Sansão, onde ele queria uma mulher pagã e o texto diz que isso vinha de Deus (Juízes 14:4). Como entender essas mudanças na forma de Deus fazer as coisas?
Desde sempre, a Bíblia demonstra uma preocupação em manter a pureza espiritual do povo escolhido de Deus. Mesmo antes do estabelecimento da lei de Moisés, vemos a cautela de Abraão ao escolher para seu filho Isaque uma esposa que pertencesse ao mesmo povo:
“para que eu te faça jurar pelo SENHOR, Deus do céu e da terra, que não tomarás esposa para meu filho das filhas dos cananeus, entre os quais habito” (Gênesis 24:3).
Abraão tem a intenção de preservar a identidade de seu povo e a fidelidade ao único Deus verdadeiro, cuidando para que não houvesse casamento com pagãos.
Mais tarde, ao ser instituída a Lei no Monte Sinai, essa preocupação ganhou contornos ainda mais definidos. Deus estabelece uma regra clara para o povo de Israel com relação a casamentos.
Essa ordem não foi apenas uma diretriz moral, mas um mecanismo de proteção para evitar a contaminação de práticas e crenças pagãs, que poderiam desviar o coração dos israelitas do verdadeiro culto ao Senhor:
“nem contrairás matrimônio com os filhos dessas nações; não darás tuas filhas a seus filhos, nem tomarás suas filhas para teus filhos” (Deuteronômio 7:3).
Isso, basicamente, representa a regra geral de Deus para seu povo, que deveria ser praticada por todos! No Novo Testamento, Paulo fala sobre não se colocar em jugo desigual com os incrédulos:
“Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas?” (2 Coríntios 6:14).
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Exceções para propósitos especiais: Os casos de José e Sansão
Apesar da regra geral, há momentos na narrativa bíblica em que Deus permite exceções para realizar propósitos específicos em Sua obra redentora e de juízo.
Um exemplo significativo é o de José do Egito, que, mesmo tendo sido criado sob a influência de um ambiente que prezava pela pureza do povo escolhido, se casou com uma mulher egípcia.
“E a José chamou Faraó de Zafenate-Panéia e lhe deu por mulher a Asenate, filha de Potífera, sacerdote de Om; e percorreu José toda a terra do Egito” (Gênesis 41:45).
Essa união ocorreu em um contexto de elevada responsabilidade, quando José foi levantado como governador do Egito.
Essa decisão, longe de ser um descumprimento da ordem original, mostrou-se indispensável para o cumprimento do propósito divino de preservar a família e o povo de Israel durante um período de grande fome e adversidade.
Outro caso emblemático é o de Sansão, cuja história nos apresenta uma situação aparentemente contraditória. Sansão se apaixona por uma mulher filisteia, o que trouxe uma grave crítica de sua família com relação a isso.
“Porém seu pai e sua mãe lhe disseram: Não há, porventura, mulher entre as filhas de teus irmãos ou entre todo o meu povo, para que vás tomar esposa dos filisteus, daqueles incircuncisos? Disse Sansão a seu pai: Toma-me esta, porque só desta me agrado” (Juízes 14:3).
Vemos que a escolha de Sansão por uma mulher filisteia foge à regra estabelecida. Contudo, em seguida, o texto esclarece:
“Mas seu pai e sua mãe não sabiam que isto vinha do SENHOR, pois este procurava ocasião contra os filisteus; porquanto, naquele tempo, os filisteus dominavam sobre Israel” (Juízes 14:4).
Aqui, Deus utiliza a escolha de Sansão como instrumento para preparar uma ocasião de juízo contra os inimigos de Israel. Assim como no caso de José, a exceção não anula a regra, mas a insere num contexto de intervenção divina para um propósito maior, que era a libertação e o fortalecimento do povo de Deus.
O princípio das exceções e a imutabilidade das regras gerais
É fundamental compreender que as ordens de Deus constituem regras gerais, estabelecidas para a grande maioria dos casos na vivência cotidiana do Seu povo.
Contudo, quando há um propósito especial e urgente em jogo, Deus, em Sua soberania, e sendo o legislador e o juiz, pode permitir exceções que não representam uma quebra ou modificação da regra principal, mas sim uma aplicação pontual de Sua vontade.
Um paralelo interessante pode ser traçado com a regra da mortalidade humana. A Escritura nos ensina que “todo homem morrerá” e isso por causa do pecado, o que representa uma verdade universal e incontestável.
Contudo, existem casos notáveis na Bíblia, como os de Enoque e Elias, que, por causa do propósito do Senhor, não passaram pela morte física. Essas situações não alteram a regra geral, mas demonstram que, em ocasiões especiais, o Senhor pode intervir de maneira única para cumprir Seus desígnios.
Assim como na questão dos casamentos, as exceções que encontramos na narrativa bíblica — seja na união de José do Egito ou no relacionamento de Sansão — não invalidam a ordem estabelecida, mas a colocam em perspectiva dentro do grandioso plano de Deus.
Compreendendo o contexto e o propósito específico de Deus
Para interpretar corretamente essas passagens, é essencial levar em conta o contexto histórico, cultural e espiritual em que cada evento ocorreu. Deus, em Sua infinita sabedoria, conhece todas as circunstâncias e sabe exatamente quando e como agir para realizar Seus propósitos.
As exceções concedidas não devem ser vistas como uma liberação irrestrita da lei, mas sim como instrumentos cuidadosamente providos para momentos específicos de juízo, restauração ou preparação para desafios futuros.
O caso de Sansão, por exemplo, evidencia que, mesmo em situações que à primeira vista parecem contrariar as ordens divinas, há um plano maior em ação. Deus, ao permitir o relacionamento de Sansão com uma mulher filisteia, estava preparando o terreno para que o juízo sobre os opressores se concretizasse.
De modo semelhante, a união de José do Egito com uma egípcia se inseriu em um contexto de salvação, garantindo que a família de Israel permanecesse preservada em meio a uma das maiores crises da história.
Esses episódios demonstram que Deus não age de maneira arbitrária, mas sempre com um propósito bem definido. Quando analisamos a totalidade da Escritura, percebemos que as regras gerais permanecem firmes e válidas, servindo como base para a vida espiritual e social do Seu povo.
As exceções são apenas aplicações pontuais, autorizadas para que o plano divino se desenvolva de acordo com a vontade soberana do Senhor e considerando também questões humanas importantes.
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