Por que Saul ESQUECEU de Davi mesmo sendo Davi escudeiro dele?

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Você Pergunta: Não consigo compreender por que o rei Saul, que tinha muita proximidade com Davi quando este tocava harpa e o acalmava de seu problema espiritual (1 Samuel 16:14-23), depois não o reconhece quando Davi matou o gigante Golias (1 Samuel 17:55-58). Como isso é possível, sendo que Davi e Saul pareciam ser tão próximos e Saul amava Davi?

Caro leitor, a Bíblia nos apresenta de forma dramática a história de Saul, o primeiro rei de Israel, e Davi, o jovem que se tornaria um dos maiores reis da história do povo de Deus (no lugar de Saul). 

A relação entre os dois é complexa e intrigante, marcada por momentos de proximidade e afeto, mas também por ciúme e perseguição. Um dos episódios mais curiosos dessa história é narrado no livro de 1 Samuel, nos capítulos 16 e 17.

Em 1 Samuel 16:14, lemos que o Espírito do Senhor se retirou de Saul, e um espírito maligno o atormentava. Para aliviar seu sofrimento, Saul buscava a companhia de Davi, que tocava harpa e o acalmava (1 Samuel 16:23).

Davi se tornou um servo fiel e amado por Saul, chegando a ser seu escudeiro: “Assim, Davi foi a Saul e esteve perante ele; este o amou muito e o fez seu escudeiro” (1 Samuel 16:21).

No entanto, a narrativa toma um rumo inesperado quando Davi mata o gigante Golias. Saul, ao ver Davi se aproximar do filisteu, pergunta a Abner, o comandante do exército: “De quem é filho este jovem?” (1 Samuel 17:55). 

A pergunta de Saul causa estranheza, afinal, Davi não era um desconhecido para ele, não é mesmo? No entanto, por mais estranha que pareça essa pergunta, temos a resposta dela no próprio contexto da história. Vou mostrar isso na sequência…

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Por que Saul parecia não conhecer Davi e sua Família?

Quando Davi se destacou ao enfrentar o gigante Golias, a vitória não era apenas uma demonstração de coragem ou habilidade militar, mas também um evento que desencadeou uma série de promessas públicas feitas pelo rei Saul e que precisariam ser cumpridas. 

Em 1 Samuel 17, o ambiente de guerra e a expectativa do povo estavam repletos de recompensas para aquele que pudesse derrotar o gigante Golias. 

Entre as recompensas anunciadas, estava a promessa de grandes riquezas, casamento com uma filha do rei Saul e a isenção de impostos para a família daquele que realizasse tal feito! Já pensou nisso? Ser parente do rei e ainda sua família nunca mais pagar impostos?

“e diziam uns aos outros: Vistes aquele homem que subiu? Pois subiu para afrontar a Israel. A quem o matar, o rei o cumulará de grandes riquezas, e lhe dará por mulher a filha, e à casa de seu pai isentará de impostos em Israel” (1 Samuel 17:25).

Isso, basicamente, explica a pergunta de Saul a Abner e depois ao próprio Davi! Nesse contexto, a pergunta de Saul – “De quem é filho este jovem?” (1 Samuel 17:55-56) – ganha um significado importante a ser considerado! 

Saul não esqueceu quem era Davi; ele precisava obter informações detalhadas sobre sua família para que pudesse cumprir as promessas públicas que havia feito.

Não podemos cobrar do rei Saul que soubesse a “ficha corrida” de cada pessoa que trabalhou para ele. Ele conhecia o harpista Davi, mas não tinha detalhes com muitos pormenores de sua família!

Saber a identidade e a origem de Davi era crucial para a validação dos compromissos que, publicamente, haviam sido anunciados. Imagine a expectativa de todos que viram Davi triunfar sobre o gigante? Todos queriam ver o que aconteceria com a promessa feita pelo rei! Ele a cumpriria?

Assim, a pergunta de Saul era mais uma busca por esclarecimento para cumprir uma obrigação solene do que uma indicação de desconhecimento.

Por isso, sendo o pai o representante máximo de uma família nesse tempo patriarcal, a pergunta de Saul faz todo sentido. Como Saul não conseguiu a resposta com Abner, comandante do exército, perguntou ao próprio Davi depois que ele venceu Golias:

“Então, Saul lhe perguntou: De quem és filho, jovem? Respondeu Davi: Filho de teu servo Jessé, belemita” (1 Samuel 17:58).

Essa resposta de Davi confirma a identidade de Davi e do cabeça de sua família (Jessé) e permite a Saul prosseguir com a promessa que havia feito. 

Entretanto, essa relação, que começou com a afeição e o reconhecimento dos talentos de Davi, sofre uma transformação à medida que a trajetória de Davi se torna muito abençoada pelo Senhor e, consequentemente, provoca o ciúme e medo de Saul.

Em 1 Samuel 18, por exemplo, vemos que o rei passa a temer o sucesso de Davi, o que culmina em uma série de manobras e perseguições. Esse contraste entre o início afetuoso e o fim conturbado evidencia as complexidades das relações humanas e a interferência do pecado destruindo tudo que poderia ser abençoado!

O propósito da narrativa e da pergunta de Saul

É fundamental compreender que a narrativa de 1 Samuel não pretende mostrar uma falha de memória ou desatenção de Saul, mas sim expor as dinâmicas de poder, a importância da linhagem (parentescos) para a concretização de promessas públicas e o início de um processo que levaria à rejeição total de Saul como rei. 

O episódio em que Saul pergunta “De quem é filho este jovem?” serve para demonstrar que, mesmo estando próximo de Davi, havia aspectos administrativos e políticos que precisavam ser esclarecidos. 

A pergunta não implica em esquecimento, mas em um procedimento para dar cumprimento a uma promessa que envolvia recompensas significativas para o vencedor de um feito heroico.