Jesus Cristo foi pregar no inferno após a sua morte?
Você Pergunta: estudamos esse final de semana na Escola Dominical sobre salvação e pregação e surgiu o assunto se Jesus Cristo foi pregar no inferno após a Sua morte, como nos parece indicar o texto de 1 Pedro 3:19. O debate foi grande sobre o tema, por isso, gostaria de saber o que você acha desse texto, pode nos dar alguma opinião sobre ele?
Caro leitor, esse texto citado está na lista daqueles textos de difícil interpretação. Mas isso não significa que não consigamos compreender algumas possibilidades sobre ele e tirarmos algumas interpretações. Vamos fazer isso agora.
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Jesus Cristo foi pregar no inferno após a sua morte?
(1) Em 1 Pedro 3:18-19, observamos a seguinte narrativa: “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão…” (1 Pedro 3:18-19).
A primeira coisa a analisar é que Cristo é apontado aqui indo “em espírito” pregar aos espíritos em prisão. Esses espíritos em prisão são identificados em 1 Pedro 3:20 como pessoas que viveram em outro tempo:
“os quais, noutro tempo, foram desobedientes quando a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito pessoas, foram salvos, através da água”.
A primeira conclusão aqui é que o texto fala de pessoas que viveram nos tempos de Noé e que, nesse momento sobre o qual Pedro escreve, essas pessoas estavam condenadas (espíritos em prisão).
(2) A grande pergunta a partir daqui é: Por que Jesus Cristo teria ido pregar no inferno, segundo alguns pensam, a esses espíritos condenados? Vejamos algumas possibilidades e as suas implicações:
Jesus Cristo foi pregar no inferno a fim de converter alguns
Alguns autores apontam essa interpretação. Jesus teria, após a Sua vitória na cruz, ido até o “hades” (inferno) a fim de pregar ali para aqueles espíritos em prisão.
Essa ideia, porém, traz muitos problemas, pois entra em conflito direto com diversos textos que afirmam que não existe uma segunda oportunidade após a morte.
Por exemplo, Hebreus 9:27: “E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo”.
Outra questão é por que somente esse grupo teria uma segunda oportunidade de ouvir a palavra de Deus, já que se Jesus foi pregar a eles, é certo que poderia haver uma mudança da condição deles? Essas questões enfraquecem muito esse ponto de vista.
Jesus Cristo foi pregar no inferno para anunciar a Sua vitória na cruz
Alguns pensam que Jesus Cristo teria ido como que zombar e proclamar ali diante dos condenados a Sua vitória na cruz.
No entanto, esse pensamento me parece também complexo, pois a palavra grega “kerusso” (pregou) no texto, está ligada geralmente a proclamação de uma boa nova, do evangelho, e não de algo judicial como uma condenação eterna ou uma zombaria.
Além disso, parece-me sem propósito Jesus ir até o inferno para dizer algo que já é sabido por todos que estão lá aguardando o julgamento do grande dia. Não me parece, analisando o contexto, que essa tenha sido a intenção de Pedro ao narrar toda essa questão.
Jesus Cristo pregou “em espírito” através de Noé para aquela geração
Em 1 Pedro 3:20 fica claro que a indicação de tempo desse texto aponta para a geração de Noé. Diz também que Cristo fez essa ação “em Espírito” (observe “No qual” – verso 19).
Parece-me mais correto afirmar que Jesus Cristo agiu através da vida de Noé no tempo entre a construção da arca de Noé e o dilúvio (estimado em cerca de 120 anos – Gênesis 6:3).
Ou seja, Noé foi usado por Deus para proclamar essa mensagem à sua geração que, como visto, não atentou para o que estava ocorrendo até que veio o dilúvio (Mateus 24:38).
Essa interpretação também traz um problema: Por que o texto fala de espíritos em prisão se a pregação era para pessoas que estavam vivas na época de Noé?
Esse problema, porém, parece ser solucionado com a ideia de que Pedro estaria apontando que esses condenados (vivos na época de Noé) eram (nesse momento em que Pedro estava escrevendo) espíritos em prisão, ou seja, condenados.
Essa ideia parece ser realmente a mais correta devido ao objetivo de Pedro ao escrever, que era animar o pequeno número de cristãos que eram perseguidos ferozmente em sua época, identificando-os com os que foram salvos na Arca de Noé, e o grande número de condenados que rejeitaram a mensagem do Senhor (e a rejeitam) em todos os tempos.
(3) Dessa forma, apesar de termos aqui um texto difícil, creio que conseguimos levantar uma interpretação mais harmoniosa com todo o contexto bíblico que, em minha opinião, é a última apresentada.
Por isso, é sempre bom analisar com cuidado esse texto antes de sair por aí dizendo que Jesus Cristo foi pregar no inferno, pois me parece bastante desarmonioso com o texto de 1 Pedro, afirmar que Cristo foi ser um pregador de algo no inferno.
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