A esponja com vinagre colocada na boca de Jesus era usada em banheiros de Roma?
Você Pergunta: Meu professor de Escola Dominical disse que a esponja que embebedaram em vinagre e colocaram na boca de Jesus era um tipo de “papel higiênico” da Roma antiga, ou seja, eles usavam esse tipo de esponja nos banheiros públicos de Roma para se limpar. Isso é verdade? Essa informação pode ser provada biblicamente?
Não podemos negar que é importante estudar o contexto de fatos bíblicos, entendendo questões que não são citadas de forma tão clara na Bíblia, mas que são mencionadas em escritos e evidências extra-bíblicas. Por exemplo, evidências arqueológicas.
Porém, nunca podemos esquecer que a Bíblia é inspirada pelo Senhor, e, por isso, as evidências externas não devem assumir um status maior do que o próprio texto sagrado.
Atualmente, muitos estudantes da Bíblia buscam compreender a questão da esponja usada nos banheiros públicos de Roma e sua relação com o episódio da crucificação de Jesus.
A narrativa sobre esse episódio consta em João, onde lemos: “Estava ali um vaso cheio de vinagre. Embeberam de vinagre uma esponja e, fixando-a num caniço de hissopo, lha chegaram à boca” (João 19:29).
Essa passagem tem sido interpretada por alguns como uma possível referência a um objeto de uso higiênico semelhante ao “papel higiênico” na Roma antiga. Ou seja, uma esponja que era usada nas partes íntimas para limpar fezes e urina e depois desinfetada com vinagre, por exemplo.
Contudo, é essencial analisar o contexto e os detalhes presentes no relato para evitar interpretações que extrapolem o que o texto realmente revela.
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O significado da palavra “esponja”
A palavra “esponja” usada no evangelho vem do grego “spoggos”, que designa um objeto naturalmente capaz de absorver líquidos.
Esse termo, na cultura da época, não traz em si uma conotação exclusiva com utensílios de higiene para banheiros públicos. As esponjas tinham diversas utilidades, como limpar, absorver líquidos e até mesmo aplicar substâncias medicinais.
Assim, associar automaticamente a esponja citada no relato bíblico ao “papel higiênico” romano é, no mínimo, uma interpretação que não encontra suporte direto no texto bíblico.
Evidências arqueológicas e o uso das esponjas
Diversas evidências arqueológicas apontam para o uso de utensílios que se assemelham a esponjas presas em cabos, encontrados em ambientes que podem ter sido utilizados para a higiene pessoal em locais públicos, como os banheiros da Roma antiga.
Esses achados indicam que, de fato, as esponjas faziam parte dos instrumentos utilizados em práticas cotidianas de limpeza. No entanto, a forma como esses utensílios eram utilizados e o contexto específico de seu emprego nos banheiros públicos não estão descritos de forma detalhada nos textos bíblicos.
Portanto, embora haja registros arqueológicos que apontem para o uso de esponjas para a higiene, é importante frisar que tais evidências não podem ser aplicadas de maneira direta ao episódio narrado em João, como se essa esponja usada ali, necessariamente, fosse desse tipo usada em banheiros.
O uso de uma esponja para absorver vinagre, conforme descrito, pode ter tido outros propósitos dentro do contexto da crucificação.
A função do vinagre na crucificação
Observemos a sequência do relato: “Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito” (João 19:30).
Essa passagem revela que o vinagre, possivelmente amargo, teve um papel significativo nos momentos finais da vida de Jesus. Ao beber o vinagre, Jesus, recobrou um pouco de sua força e pronunciou a famosa declaração “está consumado!”.
Mas será que Jesus beberia esse vinagre se estivesse tomado por fezes ou urina? Se Jesus estivesse em condições de rejeitar essa bebida, certamente ele o faria.
Assim, a narrativa sugere que o vinagre, mesmo sendo um símbolo de amargura e abandono, serviu, na realidade, para cumprir uma profecia sobre a amargura do tratamento que Jesus sofreu:
“Por alimento me deram fel e na minha sede me deram a beber vinagre” (Salmos 69:21).
A interpretação do uso da esponja
Ao conectar a esponja com o objeto de higiene utilizado nos banheiros públicos de Roma, corre-se o risco de extrapolar o relato bíblico.
A ideia de que a esponja embebida em vinagre fosse o mesmo utensílio usado para limpeza pessoal nos banheiros, e que, portanto, estivesse contaminada, parece um tanto forçada.
É claro que poderíamos esperar qualquer tipo de ato de soldados que queriam fazer o “criminoso” sofrer, porém, não tem como ligar essa esponja com total certeza ao que aconteceu com Jesus.
Além disso, é importante ressaltar que, historicamente, seria improvável que Jesus, consciente de sua missão e de sua dignidade, aceitasse beber algo que estivesse associado à sujeira ou a práticas insalubres.
A interpretação que sugere a presença de fezes ou urina na substância (e na esponja) não encontra respaldo claro nas escrituras.
Possibilidades e limitações interpretativas
É claro que não podemos afirmar com 100% de certeza se a esponja utilizada era ou não a mesma empregada em banheiros públicos de Roma. O texto bíblico não especifica a origem exata da esponja, e a conexão com os utensílios de higiene da Roma antiga é uma hipótese que permanece no campo das possibilidades, sem comprovação documental direta.
Portanto, ao tratar essa questão, o mais prudente é reconhecer a limitação das evidências e evitar afirmações categóricas.
A melhor abordagem é apresentar essa hipótese como uma possibilidade de interpretação, mas destacando que, do ponto de vista bíblico, a prioridade deve ser o significado teológico do episódio – a consumação da missão redentora de Jesus – e não os detalhes operacionais do objeto utilizado pelos soldados.
Conclusão: uma Leitura cautelosa e contextualizada
Para concluir, é fundamental que, ao abordar o episódio da esponja embebida em vinagre, consideremos os seguintes pontos:
Contexto bíblico e extra-bíblico: É essencial estudar o contexto dos fatos narrados na Bíblia, reconhecendo que evidências arqueológicas e escritas extra-bíblicas podem nos ajudar a entender os costumes da época. No entanto, elas não devem se sobrepor à autoridade e à clareza do texto sagrado.
Significado da palavra “esponja”: A palavra spoggos designa um objeto com a função de absorver líquidos, sem que isso implique automaticamente em um utensílio exclusivamente ligado à higiene dos banheiros públicos de Roma.
Cuidados na interpretação: Embora existam evidências arqueológicas que apontem para o uso de esponjas na higiene pessoal, a conexão entre esses utensílios e o relato bíblico não pode ser feita de forma 100% assertiva.
É preciso ter cautela para não extrapolar as informações fornecidas pelo texto bíblico e apresentar hipóteses que, embora interessantes, permanecem impossíveis de serem comprovadas de forma definitiva.
Portanto, afirmar categoricamente que a esponja utilizada no episódio de João 19:29 seja exatamente a mesma utilizada nos banheiros públicos de Roma, impregnada com fezes ou urina, não encontra respaldo no texto bíblico nem nas evidências arqueológicas de forma inequívoca.
A interpretação mais consistente é a de que os detalhes operacionais – como o uso de uma esponja para absorver vinagre – servem para enfatizar o cumprimento da profecia e a consumação do sacrifício de Jesus, e não para sugerir práticas higiênicas degradantes.
Ao abordar esse tema em estudos e debates, é recomendável apresentar a hipótese como uma das possibilidades, mas sempre ressaltando que o foco deve ser a mensagem central dos evangelhos e a profundidade do sacrifício redentor de Cristo.
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