A multidão, os sinais e os verdadeiros discípulos de Cristo
Por André Sanchez
Multidões incendiadas atrás de sinais e de soluções para seus problemas não é algo “inventado” na modernidade, pelo contrário, é algo tão antigo como o próprio mundo. Pessoas costumam se ajuntar com os mais diversos motivos, sejam bons, sejam maus. Multidões estarão nos céus louvando a Deus (Ap 7. 9-10). Multidões deram a palavra de ordem para soltar Barrabás e crucificar Jesus (Mt 27. 20).
Voltando um pouco na história e observando o comportamento das multidões, (que costuma se repetir no andar da história), veremos que Jesus Cristo caiu nas graças da multidão, que o seguia, alcançando certa fama, principalmente, pelos sinais que operava. “Assim a sua fama correu por toda a Síria; e trouxeram-lhe todos os que padeciam, acometidos de várias doenças e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos, e os paralíticos; e ele os curou. De sorte que o seguiam grandes multidões da Galiléia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judeia, e dalém do Jordão.” (Mt 4. 24-25).
Talvez uma leitura superficial dos evangelhos nos indique que isso era algo bom, pois muitas pessoas reconheciam Jesus e criam nele. No entanto, não é bem isso que vemos registrado. “Ora, estando ele em Jerusalém pela festa da páscoa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. Mas o próprio Jesus não confiava a eles, porque os conhecia a todos” (Jo 2. 23-24 )
Aquelas multidões não eram verdadeiros discípulos de Jesus! Jesus conhecia-lhes o coração e não confiava no “crer” deles, pois se tratava de um crer interesseiro, baseado na troca, na barganha, na observação de sinais que Jesus podia fazer e não no próprio Jesus. Ele não queria multidões de interesseiros, mas de discípulos! – Será que não há algo de muito parecido com algumas igrejas (multidões) de hoje?
Por isso, Jesus não ficou quieto diante dessa atitude da multidão! Veja como Ele a questionou: “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que me buscais, não porque vistes sinais, mas porque comestes do pão e vos saciastes.” (Jo 6. 26). A multidão lhe responde ousadamente: “Perguntaram-lhe, então: Que sinal, pois, fazes tu, para que o vejamos e te creiamos? Que operas tu?” (Jo 6. 30). A atitude na multidão evidencia o que havia em seu coração: “Por causa disso (das palavras duras de Jesus) muitos dos seus discípulos voltaram para trás e não andaram mais com ele.” (Jo 6. 66).
A multidão que adora sinais e manifestação de poder, na verdade, é composta em boa parcela por falsos discípulos que estão atrás apenas do seu “eu”.
Para finalizar, creio ser interessante mencionar os verdadeiros discípulos. Logo de inicio, ao começar a chamar os 12 apóstolos, Jesus se encontra com Pedro, André, Tiago e João. Nenhum milagre foi feito, nenhum sinal extraordinário foi mostrado a eles. Apenas diante do chamado de Cristo, eles tomam a seguinte atitude: “Disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. Eles, pois, deixando imediatamente as redes, o seguiram.” (Mt 4. 19-20). Deixaram tudo e o seguiram em uma jornada de discipulado que culminou na perseguição deles.
Precisa-se de mais discípulos e menos multidões! Mais líderes que questionem a verdade do coração das multidões e menos (ou nenhum) líderes que adoram as multidões e o que elas podem lhes dar. Jesus começou sua igreja com alguns poucos discípulos (os verdadeiros). A matéria-prima com que se faz a obra de Deus é discípulo e não multidões cegas em busca de sinais e seus próprios interesses!
“Na maioria dos lugares é difícil conseguir levar alguém a uma reunião da qual a única atração é Deus” (A. W. Tozer)
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